Recém vinda da base, a jovem baiana que iniciou no vôlei por acaso, já teve passagens pela seleção brasileira e nesta temporada atua pelo Pinheiros
A história da meio de rede do E. C. Pinheiros, de 22 anos, Milka Marcília Medeiros da Silva (#1 Milka), se confundiria facilmente com a de tantas outras jogadoras, que também começaram jogando vôlei na escola onde estudavam, não fosse por um detalhe, o de que ela na verdade não tinha a pretensão de ser uma jogadora.
Trajetória
Frequentando as aulas de educação física, Milka chegou a participar das competições escolares de basquete, handebol, atletismo, assim como de vôlei. Se destacando principalmente pela sua altura, de tanto ouvir as pessoas falarem que deveria investir no vôlei, a jovem procurou a escolinha do time de sua cidade para começar a praticar.
“Eu tinha de 13 para 14 anos e estava morando em Valinhos, pois minha mãe havia se casado e nos mudamos para lá. Eu procurei primeiro a escolinha, já sabia algumas coisas como dar manchete, passes, mas de lá já me mandaram direto para o time da cidade. Eu não imaginava jogar, no começo tudo que eu queria era só brincar”, explica Milka.
A passagem dela pelo time de Valinhos acabou sendo rápida, pois em menos de um ano, depois de disputar um campeonato foi convidada para jogar pela Hípica. Neste segundo time, a jovem também não ficou por muito tempo, foi apenas um ano para que surgisse um novo convite. Após disputar a “Copa Piratininga”, que reunia os primeiros times da capital paulista, contra os primeiros do interior, foi a hora de uma nova mudança.
Na época nós jogamos contra o Finasa/ São Caetano e depois de me verem jogar me chamaram para ir para o time. Foi tudo muito rápido, eu nem me imaginava como jogadora e em menos de dois anos, com apenas 15 anos de idade, eu estava indo embora de casa para ir morar em um alojamento com outras meninas, em São Caetano”, a jogadora relembra.
Foi em São Caetano, onde a jogadora permaneceu por três anos, que sua carreira foi se solidificando, pois foi neste clube que Milka recebeu sua primeira convocação para a Seleção Juvenil. Também chegou a ser emprestada para o time de Osasco durante um ano, jogou uma Superliga lá e voltou para São Caetano, onde terminou a sua base.
“Foi muito difícil no começo, porque eu não tinha aquele sonho. Quando você tem o sonho, você sabe o que vem pela frente: que vai ter que morar fora de casa, ficar longe, ter várias privações. Não era um objetivo que eu tinha, foi tudo por impulso e as coisas aconteceram muito rápido. Mas era para ser”.
A atleta fala que no início chorava todos os dias e várias vezes pensou em desistir, que inclusive já chegou a arrumar as malas e ir até a porta e que durante este período a ajuda das amigas de time foi fundamental, foram elas que ajudaram a não desistir. Mesmo de longe o apoio da mãe também sempre teve um papel importante, pois segundo Milka, ela sempre reforçou que estaria do lado da filha, tanto se ela optasse pelo esporte, quanto se quisesse voltar para casa e seguir outro caminho.
“Foi quando eu recebi minha primeira convocação para a Seleção, com 16 para 17 anos, que eu falei: “Acho que é para ser mesmo.” Eu primeiro fui em uma pré convocação e não passei, mas foi a partir deste momento que eu já sabia que era ali que eu queria ficar. Batalhei, batalhei e no outro ano fui convoca. E depois desta convocação que comecei a trabalhar realmente sério, me preocupando com alimentação, em ficar forte, vi que não dava para só ir levando como era antes. No total foram quatro anos de seleção: dois de juvenil e dois de Sub 23”
Uma fatalidade na vida da atleta também foi algo que de certa forma a motivou a querer dar continuidade com a vida de atleta. “Eu tinha dois irmãos por parte de mãe e logo que sai de casa, quando fui morar em São Caetano, com dois meses eu perdi um dos meus irmãos. Acho que isso que não me deixou ir embora para casa. Nós passávamos muita dificuldade e de certa forma eu pensava que o vôlei era a única maneira para eu conseguir ganhar algum dinheiro e poder ajudar a minha família. Com certeza foi uma motivação”, a jogadora conta.
Depois de concluir a base em São Caetano, a meio de rede foi para o time de São Bernardo, onde disputou sua primeira Superliga no Adulto (15/16) e nesta temporada, 2016/2017, chegou ao E.C. Pinheiros. A principal conquista de sua trajetória até o momento é o título de Campeã Mundial Sub 23, conquistado em 2015.
Infância
Nascida na cidade de João Dourado, na Bahia, Milka lembra da infância com saudades. “Eu parecia um moleque, brincava de tudo. Era futebol, pique-esconde, subia em árvore, tomava banho no rio, quando chovia ficava na rua e voltava para casa cheia de lama. Tenho um monte de cicatrizes e não é por causa do vôlei”, ela ri.
A jogadora chegou a vir para São Paulo com a mãe quando ainda era bebê, mas aos cinco anos acabou retornando para a Bahia, com seus dois irmãos. “A minha mãe precisava trabalhar aqui em São Paulo e não tinha como nós ficarmos, pois ela não tinha nem casa própria. Então voltamos para a Bahia e ficamos com a minha vó, foi ela que me criou até uns 8, 9 anos de idade, até minha mãe se estabilizar e voltarmos a morar com ela novamente”.
O retorno para São Paulo não foi muito fácil, pois ela e os irmãos estavam acostumados com o ritmo da cidade do interior e a liberdade que tinham. Ela relembra que na nova cidade não podiam sair sozinhos na rua e que passavam a maior parte do tempo em casa, só saindo para irem para a escola. “A gente do interior sempre teve muito medo de São Paulo. Hoje sabemos que todo lugar é perigoso, mas lá na Bahia conseguimos ficar mais à vontade. Esta questão da liberdade que eu tinha eu senti muito”.
Fora das Quadras
Milka pretende fazer faculdade futuramente e uma das opções escolhidas seria a gastronomia, pois confessa que adora cozinhar. “Eu gosto de cozinhar para os amigos. Quando estou sozinha as vezes não dá muita vontade, só se eu estiver muito inspirada. Mas quando recebo visitas eu gosto de fazer alguma coisa diferente”. Outra profissão que a jogadora também tem afinidade é designer de interiores.
Além de cozinhar, a atleta também gosta muito de dançar, ver filmes e ler livros, principalmente os baseados em fatos reais e de autoajuda. Ela confessa que nos dias de folga, topa qualquer programa para não ficar em casa. “Geralmente quando tem folga não quero ficar no apartamento, porque a vida é basicamente apartamento e treino. Então eu gosto de ir no parque, ir no shopping, sair nem que seja para ficar sentada na rua, só para ficar em outro ambiente. O negócio e distrair e desligar um pouco do vôlei”, ela fala de forma bem-humorada.
Futuro
Por ter subido da base recentemente Milka acredita que ainda tem muito a evoluir dentro do esporte. E afirma que espera conseguir ser convocada novamente, mas desta vez para a Seleção Adulta. “O meu objetivo é chegar a seleção adulta, jogar uma olímpiada. Também pretendo saber administrar os ganhos que eu tiver no meio do esporte, para futuramente quem sabe abrir um restaurante. Não pretendo continuar ligada ao esporte depois que me aposentar, quero administrar meu próprio negócio”.
Namorando a pouco mais de um ano, ela conta que devido a rotina de atleta, administrar um relacionamento nem sempre é uma tarefa fácil, pois é necessário lidar com a distância e a falta de tempo. No entanto, a jovem garante que construir uma família também faz parte dos planos. “Eu amo criança, se depender de mim vou ter uns quatro filhos ou mais e muitos cachorros também”, ela completa.
MILKA MARCÍLIA MEDEIROS DA SILVA (#1 – MILKA)
Data de Nascimento: 08/03/1991
Local de Nascimento: João Dourado (BA)
Altura: 1,89
Peso: 82 kg
Posição: Meio
Pinheiros na Superliga 16/17
Comandadas pelo técnico Paulo de Tarso Milagres, nesta temporada a equipe do E. C. Pinheiros conta com um grupo bem novo e o reforço de algumas jogadoras mais experientes, como a capitã Ananda e a oposta Babi. Com 18 jogos disputados até o momento o time encontra-se com 22 pontos na oitava posição.
Nesta quinta-feira (23) as meninas enfrentarão em casa o time de São Caetano, a partir das 19h30, em busca de uma vitória nesta fase importante da competição, onde as equipes começam a se preocupar em conseguir uma vaga nos playoffs.
Crédito das Fotos: Ricardo Bufolin/ ECP