Milton Braga

Graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), com mestrado em Arquitetura e Urbanismo e doutorado na mesma instituição, o pinheirense já assinou projetos como o Conjunto residencial do Jardim Edite, a Garagem Trianon, o Terminal Parque D. Pedro e tem diversas parcerias com o lendário Paulo Mendes da Rocha. Sócio do escritório MMBB Arquitetos e responsável pelo projeto de revitalização do Centro Cultural e Recreativo (CCR), Braga conversou com a Revista sobre a carreira, a memória de um dos espaços mais privilegiados do Clube e como a nova construção vai se integrar à arquitetura do ECP.

O que você acha da arquitetura pinheirense, com espaços assinados por Ícaro de Castro Mello e Gregori Warchavchik?

O Pinheiros tem essa tradição de cuidar bem da sua arquitetura, contratando proŸ ssionais de reconhecida qualidade, e promovendo concursos, como o que ocorreu para a revitalização do Centro Recreativo e Cultural. Acho isso muito importante, porque a arquitetura faz toda a diferença. Tanto que tem um edifício do ecp que destaco, do Ícaro de Castro Mello, a Sede Social, que acho muito agradável, com aquela integração com os jardins.

O projeto do CCR também teve inspiração na Sede Social?

Foi uma clara inspiração e referência para a revitalização do CCR – torná-lo mais transparente e integrado com as áreas verdes do Clube, que são muito bonitas. Nos embasamos e nos espelhamos no projeto de Ícaro de Castro Mello. Também gosto muito do Complexo Aquático, é um projeto bacana. A estrutura do Ginásio Poliesportivo é superbonita – acho bacana verticalizar espaços esportivos. É importante para o Clube continuar nessa direção da verticalização, para preservar as áreas verdes, que são muito valiosas. É isso que estamos propondo para CCR – podemos dizer que o projeto é muito baseado na arquitetura que o Clube já tem.

Como associado e arquiteto como é ter um projeto no Clube com sua assinatura?

Fico super-honrado. Gosto muito do Clube, tenho amigos de longa data e afeto pelos espaços. Vivo nesses espaços há quase 40 anos, sou associado desde 1977. Entrei primeiro como atleta militante do Tênis, depois me tornei associado. Desde então frequento o Pinheiros.

Quais são suas lembranças do CCR?

Frequentei muito o CCR por conta do Bolão e das atividades culturais. Ia muito ao cinema. Até hoje frequento, embora não tenha mais tanto tempo. Acho superbacana o interior do Auditório, com as esculturas do Caciporé Torres, aquelas cadeiras (Poltrona Comander) de um designer superimportante, o Jorge Zalzupin. Admiro muito o mobiliário dele dos anos 1950 e 1960, é o mais bonito que tem. A madeira por fora acho legal, são coisas que vou lembrar sempre. E nós propusemos preservar essas características no projeto de ampliação e readequação do CCR, para que a memória esteja lá presente e materializada nessas coisas que Ÿcam do projeto original. Há, porém, a proposta de transformação desse espaço, porque pode ser bem aprimorado. Tem que transformar mesmo, não tem como manter tudo.

Como a Arquitetura entrou na sua vida?

Sou Ÿlho de um engenheiro civil de projetos de infraestrutura urbana, principalmente pontes. Sou o Ÿlho (entre quatro irmãos) que tinha mais aptidão para o desenho. Desde pequenininho, brincava-se em casa que seria o arquiteto. Na época da decisão, estava fora do País, em um Congresso de Ensino Médio, e acabei não tendo muito tempo de pensar. Então, me inscrevi na FAU e acabei passando no Vestibular. Mas a razão é essa de em casa ter tido esse contato com projetos de Engenharia (não de Arquitetura), mas ligados à infraestrutura urbana, que é um assunto que até hoje me interessa.

 

 

 

Você é graduado, Mestre e Doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e professor da FAU-USP desde 2001. Como foi essa transformação de aluno para professor?

Foi uma transformação gradual e natural. Porque até como aluno da PósGraduação participei como monitor assistente de ensino. E o que acho mais marcante é que me mantive próximo da Faculdade. Fiz isso porque tenho muito interesse no pensamento que a FAU-USP continua desenvolvendo. É uma das poucas escolas do mundo que, mais do que um lugar de ensino, tem um know-how, uma cultura e um jeito de pensar a Arquitetura.

 

Como surgiu o MMBB Arquitetos fundado por você, Fernando de Mello Franco e Marta Moreira?

O escritório já é bastante experiente, foi formado na década de 1990, oŸcialmente em 1992. Já acontecia um trabalho desse grupo dentro da FAU-USP nos últimos anos da Faculdade, porque éramos do mesmo ano. Nós viajamos por um tempo para fora do País para ganhar experiência. Então, comecei trabalhando com a Marta, depois o Fernando voltou do exterior. E aí voltamos a trabalhar juntos os três. Quando Ÿcamos em segundo lugar em um concurso importante nacional para o padrão brasileiro na Expo Universal de Sevilha, em 1992, nós percebemos que tínhamos condições de montar um escritório e, então, fundamos o MMBB Arquitetos.

 

Qual foi a importância da experiência estudando fora do Brasil para fundar o MMBB?

Foi fundamental não só para a formação do escritório, mas também para a formação intelectual, proŸssional e técnica dos sócios. O fato de todos terem tido essa experiência rica fez com que a nossa aŸnidade continuasse. Nós aqui em São Paulo temos um pensamento de Arquitetura muito particular, é a tal da escola paulista de arquitetura, que tem como maior representante o Paulo Mendes da Rocha. E tendo essa escola, é importante ter outras referências.

Falando em Paulo Mendes da Rocha, o Escritório tem diversas parcerias com ele.

Nós fomos alunos do Paulo Mendes da Rocha – alunos no sentido de, tanto eu como a Marta, termos sido orientandos dele no trabalho Ÿnal de graduação. E Ÿzemos isso porque já admirávamos o trabalho dele desde aquela época. Depois de formados, mantivemos contato com ele, que sempre foi uma pessoa muito acessível. E, em um certo momento, justamente com a proximidade, tivemos a chance de fazer um projeto importante para São Paulo. Era a construção de três Terminais e três estações de transferência. Então, achamos que o trabalho precisava de um arquiteto mais experiente e convidamos o Paulo Mendes da Rocha. Fizemos, mas não chegou a ser construído. Acabou se construindo uma espécie de desdobramento deste trabalho, que foi o Terminal Parque Dom Pedro. E com essa experiência toda com o Paulo Mendes da Rocha ele passou a nos convidar para fazer trabalhos juntos, porque ele já vinha querendo ter uma equipe própria Ÿxa.

Quais projetos foram feitos em parceria com o Paulo Mendes da Rocha?

Com ele Ÿzemos projetos importantes, vários construídos, como o Poupatempo Itaquera, as Galerias de Arte do prédio da FIESP, na Avenida Paulista, o Sesc 24 de Maio, inaugurado em 2017. O Sesc 24 de Maio foi considerado o prédio público mais importante do mundo pelo site mais popular de Arquitetura, o Archdaily, em uma votação popular.

Dentre os prêmios do escritório MMBB quais você destacaria?

O conjunto habitacional Jardim Edite recebeu vários prêmios, porque foi uma experiência superimportante. Recebemos o prêmio da Bienal IberoAmericana de Arquitetura e Urbanismo, em Rosário, em 2014. Recebemos também o Prêmio Urbanidade da Associação Paulista de Críticos de Arte. Tem a Garagem Trianon que também ganhou prêmio junto de outros projetos.

Você tem uma frase que diz que a sua arquitetura é muito mais atenta ao problema do que ter uma coleção de soluções. Como é esse pensamento?

Esse é um pensamento que acredita com veemência e convicção que as melhores soluções surgem na formulação do problema. Quando você formula bem o problema, a solução está quase pronta, sai fácil. Quando você sabe o que tem que resolver, você sabe o que tem que fazer. Mais do que Ÿcar pegando soluções prontas e tentando aplicar sem saber muito bem para quê. Isso que chamo de uma coleção de soluções.


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