Nadador pinheirense de 87 anos disputou duas olimpíadas e liderou, até 2015, os rankings mundiais em três provas na categoria máster
Exemplos não faltam no Pinheiros para a nova geração de atletas de alto rendimento e para os esportistas em geral. Principalmente na Natação, uma das modalidades mais tradicionais do Clube e que acaba de levantar, no Rio de Janeiro, o 17º título no Troféu Brasil – Maria Lenk, principal competição da modalidade no País.
Mais do que inspiração para a prática do esporte, Ilo Fonseca é um exemplo de vida. A história do nadador carioca de 87 anos inclui dois Jogos Olímpicos: Londres em 1948, a primeira olimpíada do pós-guerra, e Helsinque em 1952, além de outras disputas internacionais que vão desde jogos universitários até os recentes campeonatos mundiais másters.
“Londres ainda vivia racionamento provocado pela Segunda Guerra Mundial. Tivemos de levar cozinheiro e nossa própria comida para o período de estada na Inglaterra durante os Jogos Olímpicos de 1948”. Essa é apenas uma das lembranças das competições vivenciadas por Fonseca ao longo da carreira de nadador.
“Ficamos hospedados nas instalações da RAF (Força Aérea Real) e as moças, em alojamento no centro da cidade. Tornei-me amigo do Adhemar Ferreira da Silva (bicampeão olímpico do salto triplo), que à noite ficava cantando e tocando violão e não nos deixava dormir”, recorda-se Fonseca, semifinalista nos 100 metros costas em sua primeira olimpíada.
Mesmo com transporte aéreo, a viagem entre Rio de Janeiro e Londres durou dois dias. Teve início a bordo de um Constellation, sofisticado quadrimotor a hélice. A primeira escala foi em Recife e ainda houve paradas no Marrocos e em Lisboa, antes do pouso em solo britânico.
Tijuca, Botafogo e Pinheiros – Ilo Monteiro da Fonseca nasceu em 18 de julho de 1930 e começou a nadar aos nove anos no Tijuca, treinado pelo próprio pai. Aos 13, mudou para o Botafogo e em 1947 disputou o Sul-Americano em Buenos Aires. Em 1951 bateu o recorde mundial dos 100 metros costas no Campeonato Universitário Brasileiro. Foi para os Jogos de Helsinque no ano seguinte como segundo do ranking mundial e encerrou a carreira de atleta logo após a olimpíada, ao vencer os Jogos Universitários em Dortmund, Alemanha.
Aos 50 anos, depois de constantes viagens pelo Brasil como engenheiro civil, transferiu-se para São Paulo e passou a nadar na categoria máster pelo Pinheiros. Em 2011 disputou os Jogos Pan-americanos de Másters no Rio de Janeiro. Venceu quatro provas e quebrou quatro recordes da competição. Fora da piscina, ainda teve força para se formar em engenharia química.
“Quatro meses antes da Olimpíada de Helsinque, fui campeão e recordista sul-americano dos 100 metros costas pelo Botafogo em Lima, no Peru. Na final, venci o argentino medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 1952. O meu problema foi ter retornado doente para o Brasil e ficar mais de um mês sem poder nadar”, conta Fonseca.
Competição inusitada – As experiências e aventuras aquáticas do pinheirense recordista, estendem-se além das piscinas do planeta. “Eu trabalhava no Ministério da Aeronáutica e fomos construir um campo de aviação em Xavantina (MT). No fim do dia nadávamos no Rio Xingu. Ficamos alojados em uma tribo e o filho do cacique sempre ia com a gente, junto com o intérprete”.
Fonseca relata que o índio xavante era muito forte e preparado fisicamente para realizar as mais árduas tarefas. “O rio naquele trecho não era tão largo e nós apostávamos corrida. Ele só nadava por baixo da água, enquanto eu dava braçadas na superfície. Eu chegava primeiro, ele ficava indignado e dizia ao intérprete: homem branco igual a peixe”.
Em 1985, na Olimpíada Máster, no Canadá, Fonseca bateu o recorde mundial dos 55 anos nos 100 metros livre, com 1m03s40 e ainda venceu outras três provas. Em 2015 seu nome constava no site da FINA (Federação internacional de Natação) como recordista mundial dos 50 costas (45s45), 50 livre (36s24) e dos 50 costas em piscina curta (49s15) para a categoria de 85 a 89 anos.
“Atualmente venho ao Pinheiros para nadar duas ou três vezes por semana. A recomendação do cardiologista é para que eu nade com cautela e não para quebrar recorde mundial”. As histórias contadas em detalhes e com serenidade, a humildade, a aparência jovial provavelmente adquirida pelo esporte, são exemplos de vida que o senhor Ilo transmite com entusiasmo aos pinheirenses de várias gerações.