Com 29 anos, Chico é pai, educador físico, nunca passou por nenhuma cirurgia e procura dedicar-se a todos os aparelhos, contando atualmente com quatro títulos brasileiros no individual geral.
Francisco Carlos Barreto Jr. nasceu no interior paulista, na cidade de Ribeirão Preto (SP) e foi justamente lá que foi apresentado ao esporte. Caçula de uma família de cinco irmãos, sendo quatro meninos (com ele) e uma menina, ele conta que a mãe precisava ocupar os filhos com alguma atividade extra escola. E foi motivada por isso que ela chegou até um espaço da prefeitura do local, conhecido por “Cava do Bosque”, que oferecia a prática esportiva de várias modalidades.
“Eu e meus irmão praticamos vários esportes: handebol, natação, judô. Mas eu fui o único que chegou até a ginástica artística”, relembra o atleta.
E mesmo não sendo estudante da instituição, Chico passou a treinar e competir representando uma escola particular da cidade, o COC, onde permaneceu dos 7 até os 11 anos. “Foi lá que eu comecei a praticar para valer, minhas primeiras competições foram por lá”.
No meio do caminho acabou dando uma pausa na ginástica e se dedicando a outro esporte do qual também costumava praticar paralelamente, o skate. “Eu parei a ginástica e me dediquei competitivamente ao skate. Mas passaram-se dois anos e eu resolvi voltar, isso em 2003. Minha mãe me perguntou se eu queria voltar mesmo e que para isso teria que me mudar de cidade, morar sozinho”.
Sua mãe procurou a equipe de São Caetano e então em 2003, o caçula que estava com 15 para 16 anos, se viu indo sozinho na cidade grande, dando início de fato a carreira de atleta de alto rendimento. “Eu não tinha noção nenhuma do que era morar sozinho e ainda mais do que era São Paulo”.
Foi no Clube do ABC Paulista que ele desenvolveu boa parte de sua carreira, conseguindo inclusive sua primeira convocação para a seleção brasileira em 2009, já na fase adulta. Ele permaneceu por lá até 2014, quando por motivos pessoais resolveu deixar o Clube, sem ter ainda certeza de qual seriam seus próximos passos.
A saída do São Caetano foi em um período delicado, já que estava justamente no meio do ciclo olímpico para a Rio 2016. “Eu cheguei em um momento onde estava tão desmotivado, que achei que não queria mais a ginástica. Mas por outro lado eu sentia que ainda tinha algo mais a oferecer”.
Como também fazia parte da seleção, Chico conversou com os técnicos do Pinheiros e pediu para que liberassem o espaço do Clube para que ele pudesse treinar pelo menos por algumas semanas, já que estava as vésperas de competir um Meeting em Santos (SP), representando o Brasil.
Após a competição, no entanto, conversou novamente com a comissão do Clube, que falou que no momento não conseguiria oferecer um salário com atleta do Pinheiros, mas que gostaria de telo junto a equipe. “Me perguntaram se eu tinha vontade de dar continuidade, mas não conseguiriam me pagar naquele momento, por estar no meio do ano e não estar previsto contratações. Eu disse que só queria treinar. E a mudança fez muito bem para mim”.
O ginasta reforça que agradece muito por tudo que o São Caetano lhe proporcionou, mas que a mudança para o Pinheiros o ajudou muito. “O treino, a estrutura, o reconhecimento, o sistema, tudo encaixou muito bem”.
Um 2016 cheio de emoções
Com mais de 20 anos de carreira, Barreto Jr. defende que um ginasta ter que ser completo e que mesmo estando próximo de completar 30 anos, gosta de se dedicar a todos os aparelhos, sem focar especificamente em um deles. “As pessoas falam: mas com 30 anos ainda está focando no Individual Geral? Mas eu foco porque eu gosto, se eu deixo de fazer algum aparelho parece que está faltando alguma coisa. Eu acho que a ginástica só é completa quando o atleta faz um pouquinho de tudo, mesmo que ele seja ruim e melhor em outro. O Uchimura (ginasta japonês) é um exemplo disso, dentro do individual geral ele consegue as medalhas em algum aparelho e eu acredito muito nisso”.
Uma prova de que vem dando certo a receita de se dedicar a todos os aparelhos é o fato dele já ter em seu currículo quatro títulos de campeão brasileiro no individual geral. Ele será mais um dos integrantes que representará o Clube na competição que acontecerá entre os dias 5 e 9 de junho e irá em busca do pentacampeonato.
Entre os momentos mais marcantes da carreira, Chico fala sobre a conquista do Pan de Guadalajara, em 2011, onde o Brasil foi campeão por equipe, sendo a primeira vez que o país conquistou este título. Mas outro momento de grandes emoções na carreira do atleta foi o ano de 2016, onde aconteceu a edição dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Além de estar se preparando e na disputa por conseguir uma vaga na equipe, o ginasta descobriu que ia ser pai.
“O foco era tão grande nos Jogos Olímpicos, que eu só conseguir ter noção e curtir o fato depois que terminou os Jogos. Depois a gente foi vendo a barriga crescer e devagarzinho eu fui curtindo.Mas foi uma energia a mais lá. Posso dizer que eu tinha uma força extra ali na barriguinha da minha esposa, me ajudando”.
O pinheirense reforça que tanto a mãe, quanto a esposa foram fundamentais ao longo de sua carreira, dando todo o suporte necessário para que ele chegasse onde chegou. Hoje ele já consegue administra melhor as funções de atleta e pai, mas confessa que cada nova viagem para competir e uma semana que passa fora, ja sente mudanças no filho, que hoje está com dois anos.
dois anos.
Chico também conseguiu concluir a faculdade de educação física e prefere não fazer planos de que ramo irá seguir futuramente, quando se aposentar da ginástica. Mas não descarta a possibilidade de ser técnico. O atleta está se encaminhando para participar do seu terceiro Jogos Pan-Americanos, já que passou na seletiva para disputar o Sul-Americano que servirá como avaliação para montar a equipe, que será disputado logo após o Brasileiro de Especialistas. E ressalta que entre os objetivos que ainda tem na ginastica, espera ainda conquistar medalhas em Mundial e Olímpiada.
“Eu gostaria muito ainda de ser medalhista em mundial e olímpico. Na olímpiada passada eu nem sonhava e bati na trava, então eu vi que devia ter sonhado mais alto”, ele brinca.
E sobre um dos “segredos” de se manter bem até o momento, as vésperas de completar 30 anos e sendo um dos poucos ginastas que nunca passou por nenhuma cirurgia, ele ressalta:
“É difícil a gente falar que se cuida 100% , eu tento me cuidar o máximo que dá em questão de prevenção, de pós-treino, de saber meus limites e não tomar remédio por conta própria, isso ajuda muito. Ajuda os médicos o fisioterapeuta, o treinador, saber os limites da sua dor. Muitos atletas se afundam nesta mentira que é tomar o remédio e eu sempre tive este controle de saber quando não está dando. Em alguns momentos eu ultrapassei, mas é porque eu precisava, estava próximo de uma competição e não tem como, faz parte do alto rendimento”.