Em meio a tramas memoráveis da teledramaturgia brasileira, o texto de Maria Adelaide Amaral é sinônimo de sucesso. Autora de novelas e minisséries que marcaram época, como Anjo Mau (1997), Os Maias (2001) e A Casa das Sete Mulheres (2003), a pinheirense acumula 15 trabalhos autorais na TV e parcerias com autores como Cassiano Gabus Mendes, Silvio de Abreu e João Emanuel Carneiro.
Dona de diversas outras histórias, a associada também tem uma carreira consagrada no teatro. Já tem escritas mais de 14 peças. A estreia com A Resistência (1975) rendeu diversos prêmios de crítica e Chiquinha Gonzaga, De Braços Abertos e Querida Mamãe, foram vencedoras do prêmio Moliére de melhor autor nacional. Maria Adelaide Almeida Santos do Amaral, 75 anos, jornalista, nascida em Portugal e radicada no Brasil desde os 12 anos, entrou no Pinheiros com 23. Em entrevista à Revista, a autora fala sobre inspiração, criatividade e a sua relação com o ECP.
A senhora comentou que está saindo para uma viagem. Quanto descansa e quanto fica com a atenção ligada para fatos que possam se tornar histórias?
Acho que nunca descanso. Estou sempre com a mente ligada e interessada. Sobretudo na paisagem humana e o que pode brotar dela.
Como se preparou para se tornar escritora?
Eu lia muito, ia muito ao cinema e ao teatro. Fui me preparando sem saber e a vida também. A partir de meados dos anos 60, o ato de escrever passou a fazer parte da minha profissão. Passei a trabalhar para a Abril Cultural (editora), em 1968, embora nessa época fizesse Ciências Sociais e nem sonhava que um dia escreveria ficção.
A ideia inicial era ser crítica de teatro. Como acabou se tornando escritora/dramaturga?
Era isso que eu queria: ser crítica teatral. Mas um dia, casualmente, descobri que estava escrevendo uma peça de teatro. Seria A Resistência. E foi assim que tudo começou. Primeiro, fui autora de teatro, depois romancista e, finalmente, roteirista de televisão.
As três formas de escrever: peças de teatro, romances e novelas se cruzam no seu trabalho de que maneira?
Nunca disse a mim mesma: agora vou escrever teatro ou ficcão. Simplesmente acontecia. Muitas vezes em forma de encomenda, como foi o caso de Chiquinha Gonzaga, Mademoiselle e Frida y Diego.
Quando surge uma ideia e começa a escrever, já dá para saber se será um romance, uma novela ou uma peça?
Comecei a escrever aflita com o problema das demissões coletivas na empresa onde trabalhava, mas não sabia que dali sairia um texto teatral. Mas, depois da primeira obra, já sabia exatamente o que iria abordar logo depois. Na TV, a direção nos pede uma novela ou uma minissérie, a gente propõe o tema, pesquisa, escreve uma sinopse, apresenta e espera pela aprovação.
O Clube já serviu de inspiração para algum de seus trabalhos? Já houve algo ou alguma cena vivida aqui que a senhora tivesse levado para a ficcão?
Não. Isso nunca aconteceu, mas quem sabe um dia acontece…
Mesmo com o prêmio Jabuti por seu livro Luísa, seu trabalho é mais reconhecido na teledramaturgia. Como é isso para a senhora?
A televisão tem um poder de alcance infinitamente maior do que o do teatro ou da literatura. A gente está falando para milhões de pessoas. A amplitude da divulgação é decorrente dessa intensa exposição. Eu saio à rua e sou abordada por pessoas que dizem gostar do que escrevo. Mas acho que elas estão se referindo muito mais ao que produzi para a televisão. É raríssimo dizerem que assistiram a determinada peça no teatro ou leram algum romance meu.
Responsável por trabalhos de grande importância para a TV, como é saber-se lembrada pelo público até hoje?
Reconhecimento justifica não apenas o trabalho, mas também a vida de um escritor.
Nas novelas reprisadas no Vale a Pena Ver de Novo, ocorre de pensar que algo podia ser mudado?
Sempre tenho vontade de mudar alguma coisa, mas só consigo fazer isso quando uma peça é reencenada. Aí posso alterar ou melhorar o que me incomodava. Na TV é impossível: o que está feito está feito.
E a experiência de fazer uma novela das 21h, A Lei do Amor? Sua declaração foi de que não quer mais fazer trabalhos para esse horário.
Foi um trabalho insano, para não dizer desumano. Não desejo nem um pouco repetir a dose.
É diferente fazer novela hoje em dia, quando o público se manifesta pelas redes sociais?
Não estou em nenhuma rede social, só no WhatsApp. A medida do sucesso (ou não) ainda me é fornecida pelo ibope.
Qual sua relação com o Clube?
Antigamente, eu nadava quase todos os dias, mas o trânsito era melhor e não demorava mais de vinte minutos para chegar ao Pinheiros. O deslocamento foi ficando mais complicado e, durante uma novela, não consigo ir uma única vez, o trabalho é de sete dias por semana. Pretendo, porém, retomar o hábito de nadar pelo menos duas vezes por semana, me faz muito bem ir ao Clube. Eu saio totalmente reenergizada. A água me faz um bem enorme e a beleza da vegetação também.