Com 18 maratonas no currículo, Guilherme Gaia pode ser considerado um especialista em provas de longa distância. O pinheirense, que começou a correr há 20 anos, conquista a Six Stars Finishers, medalha para quem completa o circuito das World Marathon Majors, composto pelas maratonas de Tóquio, Boston, Londres, Berlim, Chicago e Nova York. Em entrevista à Revista Pinheiros, o ex-judoca conta como começou a correr e a sensação de ser o 17º brasileiro a conquistar a medalha das maratonas.
Qual foi o seu primeiro contato com o esporte?
Essa é uma pergunta difícil de responder com exatidão, devido ao meu histórico esportivo. Na infância e adolescência, sempre pratiquei muito Surf, Futebol, Ginástica Olímpica, Boxe, Natação, Polo Aquático e, principalmente, Judô, modalidade pela qual competi por mais de 15 anos pelo Clube e que, aos 17 anos, já era faixa preta. Como complemento físico sempre pratiquei a Corrida.
Como um judoca faixa preta virou um maratonista?
Quando parei de praticar o Judô, conheci minha primeira e única treinadora no Pinheiros: a Eliana Reinert. Foquei em outro esporte para me manter em forma. Porém, como sempre tive espírito 100% competitivo, comecei a participar de provas de 10 km, em questão de poucos meses. Isso me levou à primeira meia maratona no mesmo ano que corri por acaso no ano seguinte, em 1998. Fiquei absolutamente fascinado com aquele ambiente, era muito diferenciado de provas menores e eu, após cruzar os 30 km, me sentindo bem, me vi ansioso para testar os meus limites.
O que essas provas têm de especial que o conquistaram?
A maratona é a rainha das provas. Provavelmente, o que leva um corredor a desejar correr uma maratona é o desafio, a superação, a conquista. Grande parte das metas esportivas que temos parece impossível quando estamos começando, mas é impressionante como evoluímos se tivermos determinação. O que era ontem impossível, começa a se tornar tangível e após conseguir terminar uma, você já quer correr outra para melhorar.
Você completou o circuito das World Marathon Majors e conquistou uma das medalhas mais exclusivas. Era um sonho?
Completar todas as Majors é o desejo de muitos maratonistas. O fato de ser uma medalha muito difícil de conquistar, você não “sonha” com ela o tempo todo.ouvir o microfone anunciando o nome dos corredores de Elite, que estavam ali a poucos metros de distância. Ao ouvir o nome daqueles ícones do esporte, prestes a bater um recorde mundial ou inclusive participar de uma prova cujo recorde mundial foi batido, é algo de arrepiar.
Qual sua rotina como maratonista amador?
É uma rotina normal, com algumas horas dedicadas aos treinos. Corredores amadores são aqueles que correm por amor ao esporte e exercem suas profissões paralelamente, portanto sem muito tempo disponível. Um treino no período de maratona tem a duração (entre corrida e alongamento) de 1h30 a 3h, sendo 3h para os treinos longos acima de 30 km e praticados de cinco a seis vezes na semana.
Que conselho você dá para quem quiser participar das seis Majors?
Olha, participar de todas as Majors não é uma meta fácil. Sem mencionar a dificuldade do treinamento para se correr uma maratona, correr uma Major exige alguns desafios extras. Além de ser superdifícil de se inscrever, chegando a ter 10 inscritos por vaga, você ainda precisa se classificar para Boston que, além da dificuldade de inscrição, ainda requer um tempo classificatório superexigente que poucos corredores conseguem atingir. Portanto, completar todas demanda muito treino, persistência e planejamento.
O que a maratona trouxe de ensinamento para sua vida?
Os treinos de tiro em pista e os treinos longos levam o corpo ao extremo do esforço. Saber trabalhar a cabeça, para aguentar as últimas 3-4 repetições de um tiro ou os últimos quilômetros de prova, requer uma superação total, o que fortalece muito sua mente não só para o esporte como para diversas situações da vida. Sem esforço, não há glória. E, para terminar, uma frase de incentivo e superação que eu amo: ‘Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez’. Persiga seus sonhos, pois alcançá-los é possível.