Entrevista Cesar Cielo – Março 2017

Uma das parcerias mais vitoriosas da Natação brasileira está de volta. O associado campeão olímpico Cesar Cielo é novamente atleta do Pinheiros. Depois de passar por instituições como Flamengo, do Rio de Janeiro, e Minas Tênis Clube, de Belo Horizonte, o nadador foi contratado por duas temporadas pelo ECP.

A volta ao Pinheiros, equipe que defendeu de 2003 a 2009, representa também o reencontro com Alberto Pinto da Silva, o Albertinho, principal treinador da sua carreira.

Aos 30 anos e em um novo momento na carreira, Cielo conversou com a Revista sobre o seu futuro, os próximos desafios como atleta e, claro, Tóquio-2020.

Como foi voltar a ser atleta do Pinheiros?

Foi muito bom voltar. Meu último ano foi 2009, quando o Albertinho era o head coach da equipe. Agora, como ele voltou a essa posição e apareceu a oportunidade com uma proposta um pouco diferente para mim, não só focada na parte de performance, mas também no treinamento diário com a equipe, isso me agradou bastante. Estou num momento muito mais preocupado com a equipe e a Natação do que com o meu desempenho.

 

Quando você entrou aqui, pela primeira vez, teve a chance de nadar ao lado do Gustavo Borges. Como é estar do outro lado agora?

Uma das coisas que eu queria fazer e que o Albertinho também queria era que eu participasse dos treinos no Clube, diariamente, lado a lado da equipe, como parte de liderança e espelho para a galerinha mais nova.

Acredito muito na parte de exemplo e da ação mais do que de discurso. Estou no dia a dia, basicamente, para mostrar para eles que todo mundo é igual. E consegui os títulos da minha carreira. Nosso maior objetivo é que eles sejam melhores ainda.

Qual a diferença do Cielo que saiu do Clube em 2009 e do que volta em 2017?

A última vez que nadei pelo Pinheiros foi em dezembro de 2009, no campeonato em que bati o recorde mundial. Em 2017, volto como um atleta muito mais experiente e mais inteligente nas minhas escolhas. Hoje, tenho muito mais consciência de tudo o que faço. Com o tempo, fui ficando cada vez mais “caxias” com tudo, fui ficando cada vez mais exigente na minha dedicação.

 

Você passou por diversos clubes, o que torna o Pinheiros especial? Foi o Clube que me trouxe do interior de São Paulo. Pretendo terminar minha carreira nadando pelo Pinheiros. Sou associado, tenho, então, todo o interesse de ficar. Enquanto der para ficar na equipe, eu fico. Para mim, como vim para cá muito jovem, é algo de identidade, espiritual. Sempre gostei de fazer parte da equipe do Pinheiros. Faz muito sentido usar o azul e preto do Clube.

 

Do que você se lembra de quando chegou ao Pinheiros pela primeira vez?

 

Cheguei como atleta aos 16 anos e tinha o sonho de ir para uma Olimpíada e de ser campeão mundial um dia. Hoje, estou voltando com isso na bagagem. Dentro do Pinheiros, tem um lado meu que ainda é do garotão. Vejo que as pessoas têm essa relação comigo, não é aquela coisa de fanatismo ou de querer ficar tirando foto. É algo mais de conversar, de estar próximo, de perguntar da vida, não só da Natação. Tenho muitos amigos dentro do Clube.

 

Você sentiu saudades de algo em especial?

Olha, foi engraçada a primeira andada que dei dentro do Clube, porque quando era militante almoçava e jantava no refeitório e, na primeira volta que dei com a minha esposa, para mostrar o Clube para ela, foi meio que um flash back, um dèja vu na minha cabeça. O que eu mais sentia falta, às vezes, era da turma, dos amigos que eu tinha, porque são amigos com os quais mantive contato todos esses anos. Tem gente que cresceu comigo, que trabalha comigo também, então, é bom ter uma equipe perto, porque passei muito tempo treinando sozinho nos últimos anos. Para falar a verdade, senti falta da piscina coberta (risos), porque tenho um carinho muito especial por ela, foi onde bati meu recorde mundial.

 

Como foi o primeiro dia treinando aqui, nesta piscina em que você bateu o recorde mundial?

Foi engraçado, porque a gente da Natação vai ficando meio louco, acho que é muito cloro na cabeça (risos), e tem hora que conversamos com a piscina. Eu cheguei e pensei ‘a piscina está legal, só deram uma embelezada aí, mas ainda é a minha piscina’. E vislumbrei a ideia de daqui a um tempo ver alguém do Clube nadando tão rápido quanto eu nadei naquela piscina. Deu muita vontade de nadar rápido de novo. Então, toda vez que entro lá aquela sensação do recorde mundial volta um pouquinho e me faz muito bem.

 

Toda vez que falamos de Olimpíada e do Pinheiros seu nome sempre aparece, você marcou a história do Clube. Com é isso para você?

É muito legal, acho que nessa parte acaba sendo uma divisão até de responsabilidade e pressão, me ajuda a ter tanta gente boa perto. Outro dia, estava treinando na musculação e apareceu o Leandro Guilheiro, em outro dia cruzei com o Rafael “Baby” Silva. É muito bom ter essa equipe, porque é uma equipe de gente muito boa. Não tem uma estrela que brilha mais.

Aí, isso para mim é reconfortante, porque acaba não tendo tanta pressão em cima de mim. O que queremos mais do que tudo é representar o Brasil e o Clube da melhor forma possível e com esses caras ao lado é empolgante. E mais empolgante é você ver um medalhista olímpico ao seu lado e aprender com um cara desses é uma experiência que vale por mais de um milhão de treinos.

 

 

Qual a diferença do Cielo que saiu do Clube em 2009 e do que volta em 2017?

A última vez que nadei pelo Pinheiros foi em dezembro de 2009, no campeonato em que bati o recorde mundial. Em 2017, volto como um atleta muito mais experiente e mais inteligente nas minhas escolhas. Hoje, tenho muito mais consciência de tudo o que faço. Com o tempo, fui ficando cada vez mais “caxias” com tudo, fui ficando cada vez mais exigente na minha dedicação.

 

Você passou por diversos clubes, o que torna o Pinheiros especial?

Foi o Clube que me trouxe do interior de São Paulo. Pretendo terminar minha carreira nadando pelo Pinheiros. Sou associado, tenho, então, todo o interesse de ficar. Enquanto der para ficar na equipe, eu fico. Para mim, como vim para cá muito jovem, é algo de identidade, espiritual. Sempre gostei de fazer parte da equipe do Pinheiros. Faz muito sentido usar o azul e preto do Clube.

 

Depois da Rio-2016, em que você não se classificou, você deu uma parada. Qual foi a importância desse momento na sua carreira e como você lidou com ele?

Na verdade, meio que segui o cronograma que estava planejando na minha cabeça, independentemente do resultado. Estava querendo dar uma pausa mesmo depois da Olimpíada do Rio. Já estava vindo de um período, em que estava mentalmente cansado dos treinamentos e de toda a rotina. Quando acabou acontecendo a não classificação, decidi seguir o meu projeto do jeito que tinha estabelecido. A ideia era essa mesmo, dar um tempo até o Natal, ver se ia sentir saudades da piscina e aí decidir se voltaria ou não para os treinos. E, no fim do ano passado, me fez muita falta não ter a equipe ao lado e da rotina do dia a dia. Apesar de reclamar dessa rotina, quando você sai parece que o dia tem 39 horas. Deu saudade de voltar e a proposta do Albertinho de ajudar esse grupo novo que ele montou me empolgou mais ainda. A nossa ideia é que Tóquio-2020 tenha o maior número de atletas possível na seleção da Natação.

 

Tóquio 2020 está nos seus planos?

Não vou responder sim nem não, para ser sincero. Estou indo de tempo em tempo, um dia depois do outro, uma temporada depois da outra. Acho que vou deixar essa temporada definir como vou tocar o rumo da minha carreira. Lógico que bons resultados vão projetar uma continuidade, mas não estou com pressão nenhuma de ir até Tóquio na minha cabeça não. Quero só terminar com a Natação feliz, numa boa, consciente de que eu deixei meu legado e não só resultados na piscina. Minha volta agora para o Pinheiros é basicamente em função disso. Quero passar a minha experiência e estar diariamente com essa turma mais nova. Quando achar que não dá mais, verei o que posso fazer para continuar ajudando.

 

Você é um atleta que sempre planejou muito bem a sua carreira. A aposentadoria faz parte deste planejamento?

Faz sim, mas é difícil falar, porque vai de temporada em temporada e existe muito amor por trás do que a gente faz. Às vezes ficamos meio em cima do muro, mas é aquela coisa do competidor, de gostar do que faz e a gente acaba arrastando um pouquinho a mais do que estava pensando. Acho que todo atleta briga e eu brigo com a minha cabeça constantemente. Oficialmente, parar do nada ainda não senti dentro de mim. A hora em que tiver esse sentimento de ‘não dá mais’ ou ‘não estou mais a fim’, acho que vai ser a hora. Acho que não tenho mais quatro anos até Tóquio-2020, mas estou indo de tempo em tempo.

 

A sua volta para o Clube e voltar a trabalhar com o Albertinho gera uma expectativa em muita gente. Como você trabalha isso?

Para a minha cabeça está sendo muito bom, porque eu sei que é um cara que me conhece muito bem. São situações novas em questão de experiência, porque muitos anos se passaram e tanto ele quanto eu ganhamos muita experiência com a Natação e treinamentos. Temos uma comunicação muito aberta, muito fácil. Tive grandes resultados com ele. Foi quando bati o recorde mundial, em 2009. Para o Mundial de Dubai, treinamos juntos. Para o Mundial de Xangai também. Temos vários títulos juntos. Para mim, a ideia é terminar minha carreira com o cara que me trouxe para São Paulo.

 

Hoje, quais são seus principais desafios como atleta?

Meu principal desafio é tentar ser mais rápido. Achar um detalhe ou outro ali dentro da técnica do nado. Tentar ser um atleta cada vez melhor. Isso é algo que sempre busco nos treinos. Essa coisa de ser um cara mais rápido e melhor sempre me empolgou e o outro desafio é ajudar essa molecada aí. Eu quero ver o Brasil voltar a ter medalhas nos campeonatos, seja comigo ou com essa turma que está subindo. Quero que não passemos em branco nas próximas edições dos Jogos Olímpicos. Eu tive a minha oportunidade várias vezes. Em algumas consegui, em outras não.

Você pensa em uma carreira de treinador?

O Albertinho jura de pés juntos que não. Que não tenho muita paciência. Efetivamente, treinador, acho que não, porque sou muito intenso, mas me imagino numa parte de gestão da equipe, trabalhando mais nos bastidores para ajudar nessa parte.

 

O que a Natação ensinou que você acha que vai levar para o resto da vida?

Acho que o principal ensinamento é que todo esforço é recompensado. Se você faz de forma dedicada e disciplinada, com vontade e amor, de alguma forma você ganha. Muitas vezes, não vai ser a medalha de ouro em si, mas toda vez que você faz o seu melhor, acho que o esporte e a vida o recompensam. Às vezes, a gente sente cobrança demais, mas acho que a cobrança tem de ser para se fazer o melhor o tempo todo.

 

Foto: Hikke de Almeida


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