Com Alison, Pinheiros faz história nos Jogos de Tóquio

Aos 21 anos, o carismático Atleta Pinheirense conquistou o bronze nos 400m com Barreiras, prova com nível técnico mais elevado no Atletismo em Tóquio

 A emoção que a final dos 400m com Barreiras prometia foi confirmada na madrugada brasileira desta terça-feira (03), principalmente para a torcida brasileira e para a Comunidade Pinheirense. O protagonista foi Alison dos Santos, o Piu, de apenas 21 anos que estabeleceu a terceira melhor marca do mundo para a prova em todos os tempos ao conquistar a medalha de bronze com 46s72 no Estádio Olímpico de Tóquio.

O nível técnico da prova, absurdamente elevado, teve os três primeiros colocados fazendo as três melhores marcas do mundo na história dos 400m com Barreiras. O norueguês Karsten Warholm venceu com 45s94, quebrando o recorde mundial pela segunda vez em menos de um mês. É o primeiro atleta a correr a prova abaixo de 46s.  O norte-americano Rai Benjamin ficou com a prata (46s17).

Piu é o responsável pela 13ª medalha do Pinheiros em Olimpíadas, a primeira do Atletismo Brasileiro em Tóquio e 18ª da modalidade em Jogos Olímpicos. Ele acaba com um tabu de 33 anos. Desde 1988, na Coreia do Sul, com Joaquim Cruz e Robson Caetano, o Brasil não conquistava uma medalha individual em provas de pista.

Com a humildade e a simpatia que lhe são peculiares, Alison comentou a conquista logo após cruzar a linha de chegada. “Meu primeiro pensamento, apesar do estádio vazio, é que tem muita gente torcendo por mim e me apoiando. Essas pessoas que estão no Brasil, fizeram a diferença. Corri pela minha família e por São Joaquim da Barra (SP), minha cidade. Na prova eu me senti leve porque tem muita gente me incentivando e me orientando para manter os pés no chão”.

O atleta do Pinheiros sabia que a prova seria forte, mas ficou surpreso com as marcas. “Cruzei a chegada, olhei para o telão, vi 45 segundos e pensei: não é possível, isso não é 400m com Barreiras, acho que estou na prova errada”. O maior desejo do medalhista é comemorar em breve com a família na tranquilidade do interior. “Não vejo a hora de voltar para casa, jogar um truco e gritar: seis, na orelha do Gersão”, brincou o bem-humorado Alison, referindo-se ao pai dele.

Acidente e superação – Piu nasceu em 2000, mas aparenta ser bem mais velho devido a uma falha no cabelo, sequela de um acidente doméstico. Com menos de um ano de idade, ele virou uma panela de óleo quente sobre o corpo, o que deixou uma cicatriz na cabeça e outras menores no braço esquerdo e no peito.

Iniciou no Atletismo em sua cidade natal em 2014, quando foi indicado a praticar esporte no Instituto Edson Luciano Ribeiro, por ser alto e possuir biótipo adequado à modalidade. Em pouco tempo obteve resultados relevantes nos 400m e 400m com Barreiras, e logo foi acolhido pelo Esporte Clube Pinheiros, seu único clube.

Em 2017, integrou o Revezamento 4×400 m Misto, campeão no Mundial Sub-18 de Nairóbi, no Quênia. Em 2018, ganhou a medalha de bronze nos 400m com Barreiras do Campeonato Mundial Sub-20 na Finlândia. No ano seguinte quebrou sete vezes o recorde sul-americano sub-20 dos 400m com Barreiras e terminou o ano na liderança do Ranking Mundial da prova.

Nos Jogos Pan-Americanos de Lima, Alison conquistou a medalha de ouro dos 400m com Barreiras com o tempo de 48s45 e se classificou para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Também venceu a prova na Universíade de Nápoles em 2019.

Com 2020 comprometido pela pandemia, Piu iniciou 2021 com a meta de correr abaixo de 48 segundos, visando os Jogos de Tóquio. Em abril, conquistou o ouro no Drake Relays, em Iowa, nos Estados Unidos,  com 48s15, recorde pessoal e brasileiro da categoria sub-23, além de melhor marca do mundo de 2021 no Ranking da World Athletics.

Um mês depois, no Mundial de Revezamentos, Alison integrou a equipe do 4 x 400m Misto, que levou o Brasil à medalha de prata. Na semana seguinte alcançou o objetivo de romper o tempo de 48 segundos. Cravou 47s68 nos Golden Games de Walnut, Califórnia, conquistando a medalha de bronze.

A marca levou o Pinheirense a quebrar o recorde brasileiro adulto, que pertencia a Eronilde Araújo (48s04) desde 1995, e o sul-americano, que era do panamenho Bayano Kamani (47s84) desde 2005. Em seguida vieram mais pódios, com direito a cinco quebras consecutivas de recorde sul-americano até chegar à consagração na prova final dos 400m com Barreiras no Estádio Olímpico de Tóquio.

 

Foto: Rodolfo Vilela/rededoesporte.gov.br