Bastidores: Um passo de cada vez

Em sua segunda maratona, Daniel Chaves conquistou o índice olímpico e viu renascer o sonho de disputar a Olímpiada 

Já imaginou dedicar vários anos de sua vida para realizar um sonho e não ser possível concretizá-lo por conta de 18 segundos? Foi exatamente o que aconteceu com Daniel Chaves, na última edição dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016).  Até então, a briga era para participar da prova dos 10 mil metros e ele se preparou da melhor forma que pode, mas foram aqueles poucos segundos que não só pareceram deixá-lo distante do seu objetivo, como também pareciam anunciar o “começo de seu fim”.

Já não bastasse a frustração por não ter conseguido disputar a tão sonhada competição, que inclusive acontecia em sua própria casa, por ser natural de Petrópolis (RJ). O pinheirense se viu desamparado, com seus patrocínios indo embora, junto com a sua motivação.

Acabou se afastando dos amigos e familiares, parou de correr e a depressão foi inevitável. Foram quase dois anos afastado do esporte e de todos, até que ao receber um diagnóstico de síndrome bipolar depressiva, ouviu da psiquiatra uma recomendação inusitada, que corresse pelo menos 30 minutos, em três dias da semana.

Mas em princípio, só a corrida parecia não estar surtindo efeito e Daniel tomou uma atitude radical. Fugiu de tudo e foi tentar se “reencontrar” indo para um mosteiro no Sul de Minas Gerais, onde permaneceu por dois meses. Além de renovar a parte espiritual, ficar em contato com a natureza e aprender, ele também não deixou de cuidar do corpo neste período e adquiriu nova visão, além da vontade para recomeçar.

 

A tão sonhada vaga

Daniel Chaves voltou a correr e quanto mais corria, mais voltava a sonhar. Foram 10km, 20km, 30km, 42km até perceber que o sonho de ser um atleta olímpico estava mais perto do que imaginava, mas não era mais nos 10 mil metros e sim na maratona.

No fim de 2018 participou de sua primeira maratona como atleta profissional, em Valência, na Espanha e se redescobriu, viu que realmente aquele era o seu caminho. Em 28 de abril de 2019, foi a Londres para disputar a segunda maratona da sua carreira e após cruzar a linha de chegada e olhar no cronômetro o tempo de 2h11m10, viu que o velho sonho poderia se materializar. O tão esperado índice olímpico (2h11m30s) veio para coroar uma longa jornada.

O pinheirense que passou a fazer parte da equipe do Clube no início desta temporada, tem procurado aproveitar essa “nova oportunidade” da melhor forma possível, buscando extrair o seu máximo e estar bem preparado para a disputa em Tóquio. Daniel passou um mês treinando no Quênia, a terra de alguns dos principais maratonistas da história, inclusive do último campeão olímpico (Rio-2016) também favorito em Tóquio, Eliud Kipchoge. Nas palavras do atleta: “nada melhor do que estar entre os melhores, treinando com eles, vendo como eles fazem, comendo o que eles comem e aprendendo com eles”.

O então maratonista, desde seu início no esporte, passou 20 anos perseguindo o sonho olímpico, até encontrá-lo por via da transição para a maratona. É quase o mesmo tempo desde a última e inédita conquista olímpica que o Brasil obteve na prova, com Vanderlei Cordeiro de Lima, nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Quem sabe o sonho de Daniel não se tornará realidade para todos nós, com mais uma medalha?

Como é tradição nos Jogos, a maratona acontece no último dia de competição. Em Tóquio, está marcada para às 19h de Brasília, do dia 7 de agosto, sábado, quando o derradeiro domingo olímpico estiver amanhecendo no Japão.