Ele, que praticava judô, iniciou na ginástica tardiamente e em pouco tempo chegou a sua primeira olimpíada, onde foi medalhista no solo
Arthur Nory Oyakawa Mariano, hoje com 25 anos, teve uma trajetória um pouco diferente do que a de outros atletas da Ginástica. Considerada uma modalidade precoce, geralmente ela é iniciada logo na segunda infância, entre 4 e 6 anos, mas no caso dele, só foram apresentados quando já tinha 11.
Na verdade, no esporte ele ingressou cedo, devido a um desejo do pai, que gostaria que eles e os irmãos chegassem até a faixa preta, começou a praticar judô com seis. No meio do caminho, devido a uma atleta da ginástica que estava em ascensão, Daiane dos Santos, começou a pegar gosto pela modalidade e sentir vontade de praticar.
“Eu fazia judô no Palmeiras e do lado de onde eu treinava tinha ginástica, então eu terminava o treino e já ficava assistindo. Só que lá não tinha masculino, só o feminino. A gente não conhecia muito da ginástica, não sabia onde praticar”, comenta o atleta.
Por coincidência, a mãe de Nory que era professora de educação física começou a dar aula em um espaço da Prefeitura conhecido pelo nome “Pelezão” e neste local havia uma escolinha de ginástica artística. “Eu ia com a minha mãe para lá a tarde e na época tinha um estagiário que dava bem a iniciação básica da ginástica, era até um tatame o lugar onde praticávamos. Mas ele me pegou para dar treino e começou a me podar para que eu pudesse entrar em um Clube grande, era uma das metas dele”.
Se mantendo nas duas modalidades: judô e ginástica, foi então que aos 11 anos, ao participar de uma pequena competição foi visto por um técnico do Pinheiros, o Batata, que o convidou-o para passar por um teste no Clube. E mesmo depois de ter passado e recebido o convite para se juntar à equipe, ele ainda teve que passar por um outro desafio, o de convencer o seu pai.
“Meu pai insistia bastante para que eu ficasse no judô e mesmo depois que entrei no Clube ainda ficou uns três anos achando que seria só um hobby, por diversão. Até que em
2008, vendo um futuro promissor, os meus treinadores, a psicóloga do Clube, os coordenadores da ginástica artística, fizeram uma reunião com ele para explicar tudo certinho e falar que eu tinha futuro. O meu treinador garantiu para o meu pai que eu ia para uma Olímpiada. Ele saiu do ginásio quietinho e a partir dali deixou eu seguir meu caminho, mas nisso já tinha 15 anos”.
O ginasta ressalta que tanto seu pai, quanto sua mãe, que hoje são separados, sempre acreditaram que o esporte tem uma influência muito grande para a criança, desde a coordenação motora, até na educação. Por isso estimulou ele e os irmãos a praticarem esporte desde cedo, mas sempre como uma atividade extracurricular, não como uma profissão.
Outras exigências de seu pai em relação a criação dele, que é o caçula e das duas irmãs e o outro irmão, que são mais velhos, era que eles praticassem algum instrumento musical, estudasse inglês e fossem ligados à área de “aviação”. No caso do judô inclusive, o desejo era que os filhos chegassem até a faixa preta.
“Cheguei até a faixa laranja e não fui na prova para trocar para faixa verde. Fiz mais ou menos um ano e meio de aulas de piano e hoje sei o básico: um dó, ré, mi (ele brinca). O inglês me viro bem e no caso da viação, hoje sou sargento da aeronáutica, através do esporte”.
Nory ressalta que apesar de ter sido de forma incisiva, ele entende a importância de tudo aquilo que lhe foi proporcionado na infância.
“Quando você é criança, os pais precisam te mostrar vários caminhos para que você possa se encontrar. Por mais que o meu pai tivesse um jeito meio autoritário, era o jeito dele, mas acho que foi muito importante para mim e meus irmãos. É importante você aprender outro idioma, a música também estimula uma criança, mas você tem que se encontrar em algum momento da vida e seguir seu caminho”.
Antes tarde do que nunca
Chegando ao Pinheiros com 11 para 12 anos, o atleta enfrentou algumas dificuldades no começo, já que não tinha um bom trabalho de base, feito na iniciação, que para ginástica é fundamental.
“Nunca tinha subido em um cavalo, nas argolas e na paralela e este processo eu acabei aprendendo muito rápido. Tanto é que eu nem ia participar de Brasileiro, mas decidiram me colocar porque eu já estava fazendo tudo que os outros meninos da idade faziam, mas estava muito imaturo ainda, era tudo muito novo”.
E foi assim, com apenas oito meses de treino, que o jovem foi para sua primeira competição, um Campeonato Brasileiro. De forma descontraída ele relembra que não foi uma das melhores experiências, mas que fez parte de todo o seu processo de crescimento. “ Foi difícil, eu errei tudo e chorei no meio da competição. Só não fiquei em último por que teve um menino que não fez um aparelho, mas fiquei ali bem no final da lista”.
No ano seguinte o Clube não participou de nenhuma competição. Mas em 2007, já se sentindo bem mais preparado, o ginasta voltou a disputar o mesmo campeonato, ganhando em todos os aparelhos e sendo o campeão brasileiro do individual geral.
O primeiro contato com a seleção também foi ainda nas categorias de base, em 2009. “Participei de um Campeonato Pan-americano que definia uma vaga para os Jogos Olímpicos da Juventude, que foi em 2010, a primeira edição realizada em Singapura”.
O atleta afirma que sua participação nos Jogos Olímpicos da Juventude, foi primordial para que despertasse nele o desejo de ir mais longe. E que depois de ter ganhado o Brasileiro infantil e disputado esta Olímpiada, percebeu que a ginástica era realmente o que ele queria para sua vida. Na época inclusive ele diz que começou a ter contato com outros atletas adultos, que eram referência e passou a se sentir pertencente naquele meio, o que fez com que sonhasse mais alto.
Ainda sobre o judô, o então ginasta avalia que toda a disciplina e filosofia que rege a modalidade também foram importantes na sua fase de crescimento e que ajudaram a ele chegar onde chegou como atleta. “Acho que já estar envolvido no esporte desde cedo, conhecer a competitividade, ter ambição, querer melhorar cada vez mais, tudo isso eu carreguei do judô para a ginástica”.
Assim como muitos, ele confessa que já tiveram momentos que pensou em desistir, já que é uma rotina pesada e que exige demais, principalmente quando você chega a fase adulta.
“Quando você está nesta fase de transição é muito difícil. Quando você sente dor, tem uma semana de treino ruim, mas daí você passa a entender que é assim a vida de um atleta. É muito importante o apoio da família, na época tive bastante o da minha mãe os amigos. Eu lembro que eu chegava chorando as vezes em casa e minha mãe: você vai continuar sim. E no dia seguinte eu continuava, porque eu amo o que eu faço e por amar muito o esporte, isso só fez eu querer crescer e melhorar cada vez mais meus resultados”.
E o sonho continua
Nory comenta que acredita que o intuito de criarem as Olímpiadas da Juventude, foi justamente incentivar os jovens a quererem chegar a “edição máster” da competição, que é a mais almejada entre todos os atletas de qualquer esporte. E afirma que após sua participação em 2010, se viu com chances reais de chegar até uma Olímpiada.
Quanto aos momentos mais importantes de sua carreira ele afirma que sem dúvida, toda a trajetória até chegar aos Jogos do Rio em 2016, foi marcante. “ Eu penso todos dos dias até hoje, quando eu vejo a medalha, alguma coisa que me lembra os Jogos. E isso me motiva a querer viver tudo isso novamente”.
Tendo conquistado uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o pinheirense relembra o momento, que foi extremamente emocionante.
“Eu saí do solo satisfeito, achando que fiz o meu melhor. Já estava muito feliz com tudo que eu tinha feita na Olímpiada inteira, competi quatro dias e nos quatro eu não tive queda, nós estávamos muito bem e preparado. Então já estava realizado porque ia terminar 100%, independentemente do resultado. Quando eu vi que estava em terceiro, pensei: tem mais três muito bons depois de mim. Era os que dois que ficaram em primeiro e segundo na classificatória e o campeão Mundial. Daí pensei: fiz a minha parte, deixa eles fazerem a deles”.
O ginasta ainda reforça que acredita que estava tudo conspirando a favor e que a energia da torcida do Brasil era tão forte, que não tinha como não dar certo. Após as Olímpiadas ele comenta que sabia que a repercussão seria grande, por ter sido em casa, mas teve que aprender a lidar com todas as mudanças que vieram após o resultado.
“Mudou muita coisa. Tirar foto, pessoas te parando na rua, te cumprimentando e falando que admira seu trabalho. Eu me vi num papel que a Daiane era para mim lá atrás, ela me motiva, me inspirava. Hoje eu sou esta pessoa, então tenho que pensar nas minhas atitudes, pensa no que fazer para ser melhor como pessoa e como atleta. Acho que isso me deu esta maturidade, claro que tem também as cobranças”.
Após os Jogos o ginasta teve que passar por três cirurgias, sendo duas assim que terminou a competição e outra em 2017. Ele reforça que apesar das lesões serem consequências de todo este esforço e precisar trabalhar principalmente a questão psicologia, ainda continua na briga e espera ir mais longe em 2020. Para quem pensa que ter conquistado uma medalha olímpica já foi o suficiente o atleta afirma, “Acho que quando a gente atinge é só uma escadinha que a gente sobe, para conseguir algo maior. Agora é sonhar mais alto e trabalhar para atingir isso. Eu acho que ainda tenho mais o que conquistar e o que melhorar e agora quero um ouro”.
O atleta do Pinheiros conta que além dos Jogos de Tóquio, pretende também participar do ciclo de 2024, antes de encerrar a sua carreira como ginasta. E para quem pensa que ele pretende parar por ai, Nory surpreende com uma declaração.
“Eu penso muito coisa. Me vejo no meio do esporte, trabalhando com atletas de alto rendimento, mas mais na parte de gestão. Gosto muito deste ambiente de competição, acho que fazer novos atletas sonhares me motiva. Mas também já pensei em ser técnico. Eu ainda queria participar de uma Olimpíada em uma modalidade diferente, depois da ginástica. Eu falo em jogar curling, pela questão da idade, mas vamos ver como vai estar o meu corpo e se vou aguentar a rotina de atleta”, ele fala de forma bem-humorada.