Foi lá em Belém (PA) que Pericles Fouro da Silva, hoje com 29 anos, por indicação de uma tia sua começou a praticar a ginástica artística. Na época com sete anos, ele foi levado ao ginásio de uma Universidade Estadual, que era o único lugar na cidade onde era possível treinar a modalidade.
“A situação não era muito boa lá, não tínhamos nem colchão e era tudo bem antigo. A princípio era só o problema da estrutura e depois foi de conhecimento técnico também. Não tinha renovação nem técnica, nem dos aparelhos. Eram aparelhos precários e não tinha muita segurança, então você podia ir até um certo ponto, não dava para evoluir muito”, relembra.
Vendo que Pericles tinha potencial e que não poderia ser desenvolvido ali, o seu técnico procurou o Esporte Clube Pinheiros, para tentar um teste para que ele pudesse integrar a equipe. Outros três atletas do Pará já tinham vindo para São Paulo e o ginasta sonhava em se juntar aos colegas na nova cidade, mesmo sabendo que seria um passo difícil.
“Foi difícil como é para todo mundo, mas só não foi mais porque eu queria muito vir. Eu via os meus amigos saindo de lá e dizia que queria vir também. Como já tinha gente aqui, eles acabaram sendo a minha família na fase de adaptação”.
Desta forma acabou dando um passo que foi determinante para sua carreira, ao fazer o teste, passar e começar a representar o Clube. Já estando próximo de completar 17 anos, teve de lidar com muitas coisas novas ao mesmo tempo: o novo clube, o novo estado, morar longe da família, a transição do juvenil para o adulto, mas acabou se saindo bem.
“Fiquei um ano em preparação e no outro já era o meu último de juvenil, daí eu ganhei o campeonato brasileiro, no individual geral juvenil. Evolui muito rápido em um ano. Depois eu já era adulto e o bicho começou a pegar”.
Conquistando espaço
Em 2010 veio a primeira convocação para representar a seleção brasileira de ginástica artística. Ele já estava com quatro anos de Pinheiros e conta que poderia até ter sido antes, mas no ano anterior houve uma seletiva da qual o Clube optou por não levar nenhum atleta. “Como era começo de temporada, por questão de estratégia os técnicos acharam melhor assim”.
A primeira competição foi uma Copa do Mundo em Doha, no Catar e já nesta estreia conseguiu pegar uma final de barra fixa. Desde então Péricles vem marcando presença na seleção adulta, representando o país em importantes competições;
“Acho que eu fui em praticamente todos os Campeonatos Mundiais, desde 2010, só não fui para um na China e outro no Canadá. Dá China eu fui mal na seletiva e o do Canadá, a CBG optou por levar menos atletas, então foi uma equipe reduzida”.
Sobre os momentos marcantes, o pinheirense relembra da conquista por equipe nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011, em que ficaram com o ouro. Outro episódio que sempre será lembrado foi a classificação olímpica, para os Jogos do Rio em 2016. “Foi a primeira vez que conseguimos classificar uma equipe para as Olímpiadas e eu estava lá, ajudei a classificar a equipe em 2015”.
Depois de ter passado pela seletiva realizada em uma das últimas concentrações do Time Brasil, que aconteceu no início de maio, ele será um dos integrantes do grupo que irá disputar o Sul-Americano. Ele afirma que depois dos Brasileiros, onde valem as disputas interclubes, entre os objetivos do ano estão os Jogos Pan-Americanos e Mundial.
No Brasileiro de Especialistas, que acontece de 5 a 9 de junho, o atleta contribuirá principalmente em dois aparelhos, já que atualmente é tricampeão brasileiro de paralelas e cavalo com alça.
“As paralelas é o meu aparelho predileto, mas eu sou especialista de cavalo com alça também. São os meus dois melhores e os que eu tenho grandes chances de disputar medalhas, já que sou tricampeão de ambos”.
Fora do Ginásio
Morando em São Paulo desde sua chegada no Pinheiros, inicialmente em Repúblicas com outros atletas do Clube, Péricles construiu sua família e hoje mora com sua esposa e sua filha de um ano e nove meses. Ele conta que costuma ir a sua terra natal uma vez por ano, geralmente no Natal, que é quando costuma ter um breve período de folga. “É sempre eu que vou para lá, porque é mais barato do que todo mundo vir até aqui. Além disso, indo lá eu vejo todos os parentes”.
O ginasta conta que tem mais três irmãs e que duas delas também praticaram ginástica artística. A mais nova inclusive, continua praticando até hoje e irá encontrar com o irmão no Campeonato Brasileiro, já que paralelo a competição também acontece o Torneio Nacional, que conta com a participação dos atletas mais novos.
E mesmo de longe a família procura sempre acompanhar sua carreira e ficarem ligados na modalidade. “Meu pai acompanha bastante, é bem interessado no esporte. E a minha mãe também, ainda mais por levar minha irmã a Kalina, que tem 10 anos, para treinar todos os dias”.
Sobre a nova família que construiu em São Paulo, ele conta que conheceu sua esposa através do esporte e que conta bastante com a compreensão dela nos momentos que precisa se ausentar, devido as competições e que eles tentam conciliar a rotina de pais com as respectivas profissões. “Ela também já foi ginasta, treinou aqui no Pinheiros e foi assim que nos conhecemos. Mas ela já parou há um tempo e hoje é contadora”.
Sobre os estudos, o atleta revela que já iniciou alguns cursos na faculdade, mas que sente que ainda não é o seu foco principal, pois a ginástica é a prioridade. “Já cursei Análise de Desenvolvimento de Sistemas, Direto e agora estou fazendo Gestão Financeira, mas à distância.
Nenhuma faculdade, no entanto, é tão desafiadora quanto a função de “Pai”. Péricles conta que assim como outros atletas que fazem parte da equipe do Pinheiros, que também tem filho, conta com bastante apoio e compreensão por parte do Clube e que vai tentando administrar da melhor forma possível a dupla jornada de atleta/pai.
“Já era complicado conciliar com a faculdade, mas o filho não tem nem comparação. Você começa a dormir pouco e o sono é parte do treinamento, também é necessário, mas aí não tem o que fazer”, ele ri.
O paraense também já faz planos para o próximo ano e acredita que devido ao fato de completar 30 anos em 2019, após 2020 deva se aposentar. Mas antes disso, ainda tem um último desejo dentro da sua carreira na ginástica. “Acho que o sonho de todo atleta é uma Olímpiada, então gostaria de encerar sendo um atleta olímpico. Eu tenho noção que será bem difícil, mas se cheguei até aqui não é impossível, vamos trabalhar para isso”.
