Quem caminha pelas Ruas Tucumã, Hans Nobiling, Angelina Maffei Vita e Avenida Brigadeiro Faria Lima se avizinha do “oásis” de São Paulo: o Esporte Clube Pinheiros, um espaço amplamente verde, ligado diretamente à história da cidade mais influente da América Latina, que este mês comemora 464 anos. Antes de se tornar o clube mais tradicional da capital paulista, o ECP, que tem 118 anos, já “andou” à beça pelos bairros de São Paulo. Os primeiros passos foram na Rua dos Andradas, onde teve sua primeira sede. Depois, “caminhou” pelo Parque Antártica, Bom Retiro, Rua Dom José de Barros, entre muitos outros locais onde os alemães do antigo Sport Club Germania (S.C.G.) praticavam esporte.
De Norte a Sul, a bússola do Pinheiros o levou a criar raízes na região antes conhecida como Chácara Itaim, às margens do Rio Pinheiros, eternizando o encontro desses dois gigantes: ECP e SP. No começo do século XX, a colônia alemã era a quarta maior de São Paulo e a cidade não parava de crescer, de se desenvolver, o que fez com que o Clube encontrasse no atual Jardim Paulistano seu endereço permanente, desde o dia 30 de agosto de 1920.
De: ECP / Para: SP
Quando o “cheque” de 80 contos de réis foi assinado, pelos fundadores do Sport Club Germania, para a compra do terreno de 100 mil m², ainda não se fazia ideia de que aquela área de terra pantanosa e cheia de capim barba-de-bode da Chácara Itaim se tornaria um dos bairros mais nobres de São Paulo: o Jardim Paulistano. Atualmente, o metro quadrado no bairro, nos arredores do Clube, é o mais valorizado da cidade.
O S.C.G. crescia rumo aos 170 mil m² que tem hoje. E São Paulo também se desenvolvia: eletricidade, telefone, automóvel, praças, parques, viadutos, marcando o nascimento da maior metrópole do Brasil, com destaque político, cultural, econômico e esportivo. A cidade foi ficando tão grande que, em 1970, o Clube ajudou na construção da Avenida Brigadeiro Faria Lima.
A marquise do Salão de Festas teve de ser remanejada, de modo a dar espaço a esse novo caminho que se abria como uma veia de circulação agitada da cidade e que faria o bairro se tornar um polo de negócios essencial para o crescimento econômico da capital. A Avenida Brigadeiro Faria Lima, antigamente chamada de Rua Iguatemi, deu novo endereço ao primeiro shopping de São Paulo: o Iguatemi, inaugurado em 1966, um dos mais importantes centros de compras do País.
O edifício da Rua Dom José de Barros, sede da Sociedade Germania, incorporado ao Clube em 1942, recebia festas, jantares, Réveillons e bailes de Carnaval, no início do século XX. Um dos cinemas mais frequentados de São Paulo, na década de 1960, ficava também nesse prédio e trouxe ao Brasil filmes de mestres como Federico Fellini. Os anos 1950 foram de ebulição social e cultural e atingiriam seu auge na década seguinte. A cidade precisava de espaços para desabrochar e o Pinheiros refinava sua vocação social promovendo e recebendo grandes festas de debutantes, concursos de misses e solenidades.
Tradição Esportiva
O ECP esteve presente, também, em momentos históricos do esporte paulistano. No dia 3 de maio de 1902, a cidade assistia ao seu primeiro jogo de Futebol da Liga Paulista: o S.C. Germania entrou em campo contra a Associação Athlética Mackenzie College. Nessa partida, realizada no Parque Antártica, saiu vencedor o Mackenzie por 2 gols a 1 e ficou na memória de São Paulo.
Os treinos de Futebol dos associados do Germania aconteciam em diversos lugares, antes da compra do terreno onde se centralizariam as atividades esportivas. Era na Chácara Dulley e na Chácara Witte, ambas no Bom Retiro, berço do Futebol paulista, que os alemães do Germania calçavam as chuteiras, rolavam a bola e chutavam para o gol. Na época, quem ia assistir a disputas da modalidade queria ver o primeiro grande craque da modalidade no Brasil: o alemão Hermann Friese, membro do S.C.G, que também se destacava no Atletismo.
Não só de gols e dribles vivia São Paulo. O Atletismo era outra modalidade que crescia na cidade e o Germania ajudou a desenvolver o esporte da corrida e dos saltos. Juntando-se ao Club Athletico Paulistano e ao Clube de Regatas Tietê, fundou a Federação Paulista de Atletismo. Além disso, o S.C.G sediou o 1º Campeonato de Atletismo Feminino extraoficial, em 1930.
No Tênis, uma associada do Germania lançou moda nas quadras de saibro. Lilly Voss foi a primeira tenista a vestir uma saia mais curta do que o padrão da época para praticar a modalidade. O Pinheiros também praticou o esporte das raquetes em quadras alugadas na Avenida Angélica, importante via de SP, que foi palco do desenvolvimento do Tênis do ECP.
O Judô do Clube fazia história em pontos paulistanos: os tatames ficavam na sede da Dom José, na Praça Roosevelt e na Santa Cecília. Até que os atletas do Germania passaram a treinar na Casa de Barcos, primeira construção no terreno comprado na antiga Chácara Itaim. Criada em 1922, para desenvolver o Remo do Germania, a Casa surgia como um local fixo para os remadores, que antes treinavam na Ponte Grande, no Rio Tietê.
A Natação era praticada na Ponte Grande, nos anos de 1910. Com a instalação dos cochos flutuantes, em 1921, o esporte passou a ser praticado no Rio Pinheiros, até a construção de uma das primeiras piscinas de São Paulo, nas dependências do S.C.G., inaugurada em 1933. Assim se desenvolveram também o Saltos Ornamentais e o Polo Aquático.
A Terceira Margem do Rio
As águas do Rio batizaram o Clube: os dois Pinheiros. A relação do ECP com o rio paulistano era cair na água para se refrescar no verão e praticar os esportes aquáticos, inicialmente com o professor Filinger. À beira do Rio Pinheiros, antigo Jurubatuba (nome da época colonial, que significa “lugar com muitas palmeiras jerivás”), se formou o Clube. Dos passeios de barco, passando pelos cochos, plataformas de Saltos Ornamentais e vias de trânsito do Remo, o rio também faz parte da história do Clube e vice-versa.
O ECP treinou no rio modalidades aquáticas e remava em seu leito, porém o rio também invadia o Clube com suas enchentes – o terreno da Chácara Itaim era alagadiço. Fez-se necessária a retificação daquelas águas, marcando o fim dos cochos e a inauguração da piscina olímpica pinheirense. Muito já se passou naquelas águas. Só não passa o ECP, que ficou deslumbrado com as curvas do rio, que permanece à sua beira, homônimo, como se fosse uma (impossível) terceira margem, curvando-se em eterna reverência.